quinta-feira, 28 de abril de 2011

Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alterava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio, ante meus olhos.

Edgar Allan Poe.

Uma taça feita de um crânio humano

Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás - pobre caveira fria -
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.

Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!... que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.

Mais vale guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
- Taça - levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do réptil.

Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
...Podeis de vinho o encher!

Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.

E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
É bom fugindo à podridão do lado
Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!...

Lord Byron.

Por que Bates coração?

Por que bates coração?
Por que lacrimeja todas as noites?
Por que sussurras tão mudamente?

O frio outra vez beija a boca
Afaga o rosto mergulhado de lágrimas,
Arranca o calafrio das costas desnuda
Apalpa o seio despido
Entrelaça o pescoço pálido.

Por que ainda dói coração?
Por que ainda não murchastes?
O que espera para secar?

O castigo da decepção de Amar,
É querer fugir,
Esconder-se,
Arrancar o gosto amargo,
Querer morrer e não ter coragem de dar cabo a si.

Rel de Lima 28/04/2011.

O Vampiro

Tu que, como uma punhalada,
Em meu coração penetraste,
Tu que, qual furiosa manada
De demônios, ardente, ousaste,

De meu espírito humilhado,
Fazer teu leito e possessão
- Infame à qual estou atado
Como o galé ao seu grilhão,

Como ao baralho o jogador,
Como à carniça ao parasita,
Como à garrafa ao bebedor
- Maldita sejas tu, maldita!

Supliquei ao gládio veloz
Que a liberdade me alcançasse,
E ao veneno, pérfido algoz,
Que a covardia me amparasse.

Ai de mim! Com mofa e desdém,
Ambos me disseram então:
"Digno não és de que ninguém
Jamais te arranque a escravidão,

Imbecil! - se de teu retiro
Te libertássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!

Charles Baudelaire.

A Alma do VInho

A alma do vinho assim cantava nas garrafas:
"Homem, ó deserdado amigo, eu te compus,
Nesta prisão de vidro e lacre em que me abafas,
Um cântico em que há só fraternidade e luz!

Bem sei quanto custou, na colina incendida,
De causticante sol, de suor e de labor,
Para fazer minha alma e engendrar minha vida;
Mas eu não hei de ser ingrato e corruptor,

Porque eu sinto um prazer imenso quando baixo
À goela do homem que já trabalhou demais,
E sei peito bastante é doce tumba que acho
Mais propícia ao prazer que as adegas glaciais.

Não ouves retirar a domingueira toada
E esperanças chalrar em meu seio, febris?
Cotovelos na mesa a manga arregaçada,
Tu me hás de bendizer e tu serás feliz:

Hei de acender-te da esposa embevecida;
A teu filho farei a força e a cor
E serei para tão terno atleta da vida
Como o óleo e os tendões enrija ao lutador.

Sobre ti tombarei, vegetal ambrosia,
Grão precioso que lança o eterno semeador,
Para que enfim do nosso amor nasça a poesia
Que até Deus subirá como uma rara flor!"

Charles Baudelaire.
Nas belas tardes de verão, pelas estradas irei,
Roçando os trigais, pisando a relva miúda:
Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:
E o vento banhando-me a cabeça desnuda.

Nada falarei, não pensarei em nada:
Mas um amor imenso me irá envolver,
E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,
Pela Natureza — feliz como com uma mulher.

Arthur Rimbaud.

Violões que Choram...

Ah! Plangentes violões dormentes,mornos
Soluços ao luar, choros ao vento
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites da solidão, noites remotas
Que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações á luz da lua,
Anseio dos momentos saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos vilões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras temem.

Harmonias que pungem, que laceram,
Dedos nervosos e agéis que percorrem
Cordas um mundo de distâncias geram
Gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,
Mágoas amargas e melancólicas,
No sussurro monótono das águas,
Noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veludas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões vórtices, vozes velozes
Vagam, vivas, vãs, vulcanizadas.

Cruz e Sousa.
Distancie teus sorrisos e carinhos de mim
Não molhe mais minha boca com teus beijos
Desprenda-me de teu falso abraço
Recolha esta mão canalha,que aqui é estirada

Sepulte todas as palavras que cuspi
Leve teu nostálgico perfume para o longe
Morra com todo o Amor que dei

Recusarei todos os risos voltados
Regarei a solidão,que as noites revelam
Deitarei com a tristeza,virando as costas para alegria

Arrancarei esse sentimento que ainda resta
Que pertuba meu sono,quando paro pensando em ti.

Rel de Lima 26/04/2011.
Arrasto-me pelo vento
Como partícula de poeira
Pousando em uma velha mesa de centro
Escutando o pingar da torneira

Ousar,
Buscar,
E se o fracasso aparecer
Perpetuar,
Covalecer.

E não pensar em fugir
Sofrer entre os pássaros lá fora
Levantar-se quando cair

E desse pranto,sorrir
Quando em meu peito a dor morre
Olhos de mentir.

Rel de Lima
Luciano Lira 16/05/2010
Amar me queima,
Beijar o beijo é tomar veneno
Transar é apunhalar-me
Sorrir é ser canalha
Suicidar-se é covardia para aqueles que tem medo da morte
Chorar é regar minha solidão
O silêncio é o fruto do mistério,que foi semeado no cio dentro de mim.

Rel de Lima 22/03/2011.

sábado, 23 de abril de 2011

Quero acolher minhas tristezas,
Para assim não semear a alegria.
Que meus carinhos, caiam nas profundezas
Regando minha escura nostalgia.

Quero acolher meus prantos
Que cai, quando chega a noite.
Emudecer os passáros e seus cantos,
Privando-os de meu repugnante açoite.

Quero apenas em silêncio padecer,
Desabar cada lástima que me roga.
Murchar o que ainda consegue viver,

Quero cobrir meu corpo de espinho,
Martelar os pregos da solidão
Enquanto embebedo-me com o vinho

Rel de Lima  23/04/2011.

Versos Íntimos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão- esta pantera-
Foi a tua companheira inseparável!

Acostuma-te a lama que te espera!
O Homem, que , nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda a pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Sangue derramado
Dor imortal
A tempestade fria,
que não me deixa passar
pelo doce portal...
Sentimentos patéticos
Pensamentos ridículos
Mundo tenebroso,
mundo sofrido...
Sonhos sem sentidos,
vida sem razão
Devo estar partindo
simplesmente ilusão.
Caminho torto e terrível
amargo e solitário
Triste e sombrio,
tão distante e fraca.
Céu nublado,
noite de Lua Cheia
sempre assustado,
em um mundo que apaixona-se pela tristeza...

Rosalina de Lima 10/05/2008.

Vermes

Debaixo,
por cima,
e dos lados da podre carne

Moscas depositam seus ovos
em movimentos vagarosos
o corpo saliente se move

entre minhas costelas vão brotando
a solitária em minha barriga,grita
minhas unhas trincam
meus olhos secam
a coceira é espalhada como peste ao meu corpo

Os dedos caem,
os ossos rangem macabramente
e o corpo cadavérico aos poucos some

Açoitado pela felicidade
os meus Vermes gritam
ao ponto de secar as rosas e derrubar seus espinhos
a dormência aqui é total

E em cima do caule,existem pétalas
e por debaixo de toda rosa
existem ESPINHOS.

Rel de Lima.

Uma gravura fantástica

Um vulto singular, um fantasma faceto,
Ostenta na cabeça horrivel de esqueleto
Um diadema de lata, - único enfeite a orná-lo
Sem espora ou ping'lim, monta um pobre cavalo,
Um espectro tambem, rocinante esquelético,
Em baba a desfazer-se como um epitético,
Atravessando o espaço, os dis lá vão levados,
O Infinito a sulcar, como dragões alados.

O Cavaleiro brande um gládio chamejante
Por sobre as multidões que pisa rocinante.
E como um gran-senhor, que seus reinos visite,
Percorre o cemitério enorme, sem limite,
Onde jazem, no alvor d'uma luz branca e terna,
Os povos da História antiga e da moderna.

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"

Poço de lágrimas

No fundo escuro do poço de lágrimas
onde não se retira água
mas a lágrima de mágoa
dos fundos olhos-profundas lástimas

E a cada gota de profunda tristeza
o grito vaga sobre o vazio
paira fortemente sobre o frio
onde o corpo esfria,treme sobre a moleza

A macabra profundidade
de negro poço
cultiva a fatalidade

De um copo suicída
pulando do alto da boca
e quebrando osso por osso...

Rel de Lima 21/02/2009.

Pesadelo Perfeito

Em delirantes e agonizantes pesadelos
nas madrugadas mais tenebrosas
os corvos agitam meus medos
a escuridão cobre as rosas

O grito é sufocado pelo medo
o corpo não mexe
o sonho não é mais o mesmo,esconde o segredo
e em perfeitas alucinações não enlouquece

Em distantes lugares perdidos
perambulando,corre,enlouquece
as lembranças magoam o peito ferido
a curiosidade,entorpece

Suando frio agora estais
encurralado e perseguido por vultos
não acordarás mais,
e agora os sonhos se tornaram ocultos

Desesperada tenta acordar
a boca fria e seca
e amendrontada cai a chorar
sua alma fica a corar

E em presos gritos
acaba de acordar
de líbidos
e perfeitos pesadelos...

Rel de Lima 08/01/2009.

Dormência

A lágrima cai,
corre o rosto
que é pálido e morto
e a alegria e vida vai

O formigamento é intenso
corrói cada pedaço
do imenso
corpo em estilhaço

Morrendo aos poucos
chora suas lastimas
de poetas loucos
que escreveram nas próprias lágrimas

A dor cura os cortes
e as flores tem cheiro de morte
o frio beija a minha boca
de palavra e letra louca...

Rel de Lima 07/01/2009.

Entre os Mortos

Vago sem ter rumo ou sentido
sinto o frio estranho e medonho
escuto o grito e o gemido
de meu fúnebre espírito tristonho

Sinto a pele fria e sem vida
olhos fundos e sem cor
a morte aqui veio despida
com o aroma de morta flor

E abandonando a podre carcaça,
de meu corpo flagelado
largo a negra couraça
que protege meu peito costurado

E entre os mortos agora
encontro o leito almejado
não desejo ir embora
mas sim ficar repousado

Dançarei com a loucura
que para os vivos,afugenta
e que para os mortos é pura
assim como a Lua sangrenta

E ao escurecer,
esperarei por ti
no teu falecer,
que estará por vir...

Rel de Lima 07/10/2009.
Em teus frios e doces beijos
encontro meu abismo
mas pela tentação,continuo a ti beijar
mesmo sabendo que irei ser lançado para dentro do abismo

E em cada palavra que dita,
que sai de tua prazerosa boca
uma punhalada fatal em meus sentimentos

Alucinado pelo teu cheiro
entrego-me as tuas falsas promessas
e finalmente termino caindo na realidade
acabo envolvendo-me mais e mais
 termino caindo em prantos

Procurando soluções para essa terrível dor...
Termino encontrando no jeito mais triste

Acabo com o que ainda resta em mim,
no cantar do rouxinol
que aqui não deixou cantar nenhuma vez...

Rel de Lima 10/10/2008.

Dama de Drama

Se dez batalhões viessem a minha rua
e vinte soldados batessem a minha porta
a sua procura
eu não diria nada...

Doçuras ingênuas
que vão além da menstruação...

Vivo do que já morreu.
Vivo do morto,
do passado
sangue incessante mensal.

E tu vives de aparência
do belo bizarro
tosco,afoago
depressão,alienação

E agora sei que a fuga
é o mártir dos espiões
o breu do vinho,amigo
é só hibernação.

E saiba
que o calor do verão
logo irá chegar
e irá queimar no inferno do Sol.

Luciano Lira 06/03/2009.
Intimidai-vos,senhores tortos
Vagam palhaços,grossas
De grossas camadas de massa
Repolho,pinto,molho
E eis nos que intimidaram
E eis o cereal sagrado do dia
O vinho que é extraído de minhas veias
Cheias...

Chuvas que entram na janela
como nuvem que botamos hoje para secar
As portas do sol já estam abertas
Para anunciar o frio do mundo.

Luciano Lira.

Os Três Mal Amados

O amor comeu meu nome,minha identidade,meu retrato.O amor comeu minha certidão de idade,minha geneologia,meu endereço.O amor comeu meus cartões de visita.O amor veio e comeu os papéis onde escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas,meus lenços,minhas camisas.O amor comeu metros e metros de graveto.O amor comeu a medida de meus termos,o número de meus sapatos,o tamanho de meus chapéus.O amor comeu minha altura,meu peso,a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu minha paz e minha guerra.Meu dia e minha noite.Meu inverno e meu verão.Comeu meu silêncio,minha dor de cabeça,meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto.
Meu lar,minha Lã
A massa e a maçã
Minha diva,meu divã
Minha manha,meu amanhã
Meu fá,meu fã
Minha paga,minha pagã
Meu elar,minha avelã
Amor de Roma,aroma de romã
Meu mal,minha mão
Meu pau,meu pão
Santo Graal,meu grão.

Luciano Lira
Analisei a destreza de meus sentimentos
na angústia incessante que pertubava-me
que a tristeza que brotava em mim
era algo que não conseguia repudiar

Percebi então que a felicidade não era mais um mar de rosas
e sim pelo contrário,
assimilando-se a um esquife de espinhos

O silêncio imenso da minha boca
agora sufoca minha voz
pressionando meu coração contra meu peito
em um aperto ofegante
arrancando-me noites e mais noites de sono-Não que isso fosse incomodo-

Os suspiros dados,
empurram minhas cinzas para o longe
reduzindo-as ao encontro do chão.

Rel de Lima 18/04/2011.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Nas brechas dos cortes nos pulsos
minha alma sente a rendição
talvez a morte não seja mais a tentação
de meus frenéticos impulsos

Em meus cigarros,os últimos tragos
ofegantes,bailantes e delirantes
tragos profundos,pseudos afagos
transformando lágrimas em sorrisos cortantes

Em meus tormentos,o Suplício
sentir novamente a felicidade,é o pior sacrifício
e por outrora a Mácula é o mais forte vestígio

Sucumbirei com os espectros,
fecharei a porta de meus sonhos
e abrirei a dos pesadelos tristonhos.

"Dedico a ti Luciano Lira,e espero que essa decomposição seja teu Réquiem as se deitar"
Rel de Lima.
Estanquei os espinhos
para quando as pétalas caírem
não se arranhassem
preservando assim a beleza de sua formosura

Comparadas as minhas lágrimas
que tombam ao chão
toda vez que o calafrio sobe minha espinha

Esse pranto,aos poucos torna-se uma velha torneira de cozinha,
incomodando-me a cada pingo d'água
ecoando no vazio do silêncio

Na calada da noite
que ultimamente venho a me rebelar
na prisão do dia escaldante,que me enlouquece

O cair do Sol,é a minha fuga desta vida monótona
e na raiva desta estúpida reação
espero pelo sono eterno
e digo a ti
que a morte é forte e poderoso sedativo hipnótico.

Rel de Lima 02/02/2011.
Ratos,rastejam,resta
rios,rios fundos ,cirúrgicos

O espetáculo tosco,
não quero dirigir,
contracenar,
correr da platéia para não sentar

Platéia parla,Vazio
choram como gatos
choro,
mio

Dramas,Damas
Damas de Dramas
de correntes menstruações

A necessidade de me sufocar
nos falos Vaginais

Mas me acabo no Íris
tão vermelho quanto o sangue
que escorre das vulvas peludas machistas

Trepo no tranco da tranca da transa
o Orgasmo,fingido
ensaiado

Istas,jogam suas iscas
fisgam,mistas

Sintam a penetração do...
...Grande tranco da Vida.

Rel de Lima
Luciano Lira 04/11/2010
Cama desarrumada,
lençol emaranhado,sufocando o colchão
travesseiro desnivelado

Cinzas,são os órgãos de meu cinzeiro
entorpecido vagarosamente
perpetuando em um silêncio solitário
que mais uma vez aqui veio moldar minhas fumaças
jogadas no quarto

Corpo sobre a cama desfeita
mas não desfeita por brasas de Amor
apenas de solidão inquietante

Abocanho novamente meu cigarro
sua fumaça em meu peito dança,
sem ritmo ou coreografia

Olhos pesados,
cabeça demente,
idéias morimbundas
para a vida que aqui mata

Os latidos rompem meu silêncio
o corpo aos poucos vai dormindo,
e minhas mãos ganham circulação  final
para estas maculosas palavras,
que aqui,são mais preciosas gravadas
do que cuspidas pela minha boca
que agora Beija e Engole a morte.

Rel de Lima 26/01/2011
Privado de meus vícios e insanidade
enlouquecendo a cada amanhecer e anoitecer
isolamento mais que cruel

Inqueito,
ofegante,
fissurado apenas por um trago
minha insônia nunca foi tão onipresente

Não é que eu tenha desejo pela morte
mas deito,apenas a espera de sua chegada

Saturado pelo momento proporcionado
pela vida massante,
trancafiado no quarto o dia todo,
privando-se do mundo pós moderno que me enoja

Assisto a luz cair,
o frio e os dias aos poucos vão caindo

Toda flor é uma ferida aberta
um corte profundo,difícil de se estancar

Choro quando vou dormir,
tranco-me em meu vagabundo e compacto guarda-roupa,
na tentativa de encontrar Luiza

Nada de Leão ou Feiticeira
sou sem recheio,
pele sobre ossos

Julgado e condenado
por não querer a utópica felicidade.

Rel de Lima 19/01/2011

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Todos procuram a felicidade
esperando que a própria traiu a tristeza

Todos procuram alguém,
por medo de se encontrarem na solidão

Muitos estampam o sorriso
escondendo o choro

Alguns fingem viver
por fobia da morte

Outros encenam amar
porque nunca foram amados verdadeiramente

Poucos preferem sua quimera
para assim viver em seus pseudos sonhos

Outros procuram ser eternos
temendo o esquecimento

Muitos falam
por receio de não serem ouvidos.

Rel de Lima 28/03/2011.
Maltratei as rosas
enforquei-me com seus espinhos
enchi taças de vinho
e com meu sangue
banhado com minhas lágrimas

Meus cortes,
berram como recém nascido
agoniado a procura do seio de sua mãe

Em minha garganta
enforcada com o nó do vazio
meu corpo aos poucos vai adormecendo

Minha garganta,arranha quando falo
meus olhos ardem e secam
meus lábios,aos poucos ficam pálidos
a respiração vai parando aos poucos

Minhas palavras vão sendo esquecidas
assim como os dias de ontem.

Rel de Lima 31/01/2011
Sinto o corpo pesado e trémulo
e aos poucos.minha mão vai adormecendo
pelos profundos cortes que necessitavam respirar em meus pulsos

Observo-me pelo espelho ensebado
levo minhas mãos ao rosto com a barba para fazer
aos poucos,minha alma e olhos são lavados por dentro
e como um maníaco viciado em amoníaco
solto a borboleta aprisionada
nas garrafas de minha triste adega

Que ali esteve enrolhada
enquanto deliciava-me com a imunda felicidade

E na hora grande da noite,
o galo canta,
o bode berra,
a lâmpada queima
e a luz de velas,sento-me nos meus aposentos

Visão turva
proporcionada pelos pequenos tragos

Meu ataque epilético sente a necessidade
de arrancar-se da prisão de meu corpo
e novamente caio no chão,
em movimentos de cólera incontrolável

Minhas lágrimas ardem em meu rosto
e depois de longos minutos
não sei ao certo,
via a imagem da morte chegando pela porta
encostando-se no canto
assistindo e gargalhando da pobre besta caída e ensanguentada
dentro do banheiro.

Rel de Lima 28/01/2011

Versos escritos na tumba do esquecimento

O vento silencioso paira  sobre três corações abandonados
a minha selva é um cão a quem temerei,
e mesmo sobre os túmulos dos mortos esquecidos
os frios corações permanecem em dia de calor

Mesmo com todo esse rancor,
os três pairam em solidão
sobre os jazido em decomposição

Esquecem e abandonam medíocres criaturas
que não sabem aproveitar mortas canções
esquecendo o que não existiu
pois mentiu e não sentiu o sentimento amargo
de vagos corações transtornados...

Rafael de Lima
Marcos Dos Anjos
Luciano Lira 20/02/2009-Cemitério Campo da Esperança.

Suplício

Sinto um sentimento
forte como a dor
assim como as pétalas da flor
em cima de um caixão em esquecimento

Esses sonhos agitados,nervosos e ofegantes
abraçam,moldam e possuem
e nos lançamos em loucos êxtases
uma ternura infinita,acariciantes
como bailarinos,em uma eterna dança

Oh!Corvo
permita-me entrar em teu falecido coração
introduzir-me nessa adorável e brutal
ilusão.

Ah!Frágil borboleta,
amo-te,
logo
Mato-te e,
minhas lágrimas regarão
as flores de teu caixão

Depois de matá-la,
solto um grito,
que alcançará o infinito
e ao início da noite,venho saudá-la

E ao bater das asas
é o fim dessas funebres palavras
com todos seus ais,
e é só isso e nada mais.

Luciano Lira 07/12 a 10/12/2009.
Desejo-te como um rouxinol
que não consegue viver sem cantar
Desejo-te como a chuva
que necessita cair

Amo-te em desespero
esperando possuí-lo,e tornar-me completa.

Procurei pelos teus olhos na escuridão
na esperança de curar-me da amargura,
que brota em meu peito

E o que encontrei
foi apenas um abismo
onde caía,
e não havia nada para me agarrar

A solidão agora faz em mim
como um cadáver,
que jamais sairá de seu túmulo pertubado

Lágrimas e mais lágrimas,
descem em minha face,
queimando-me
e fazendo-me maldita

Sem ordem,
sem desejo,
sem alegria...
Apenas pertubando minha dor

Salve-me e me cure,
desta agonia crescente

Leve-me desta vida maculada
e deixe-me viva em tuas memórias
em que algum dia consegui e tive a oportunidade
de participar...

Denise Cardoso.
No silêncio da dor e dos prantos,
o mundo perde o prazer...
Com o espírito funebre e desgastado
os olhos fundos e vermelhos
suas lágrimas tornam-se gotas de sangue

E no penhasco da dor,
o desejode acabar com o sofrimento
começa a dominar,
ter controle absoluto

E na velocidade da dor,
de se viver melhor
você é o suicida
e o homicida

Onde as rosas choram
onde os pássaros não cantam
caminhando sozinho,
e onde o vazio grita mais alto

E não consegue esquecer como morre,
no abandono,
no silêncio,
na escuridão que é perpétua

Onde as lágrimas
se tornam as canções
de um desespero sem fim

Determinado a esquecer o que viveu
e o que ainda consegue viver
quanto mais se tenta esquecer
mais lembra e afunda-se
afoga-se...
Enlouquece...
E no mais puro e doce sangue
entrega-se aos desejos impossíveis

E termina sua sofrida e bizarra jornada
em um copo de doces e agradáveis pesadelos...

Rafael de Lima 26/07/07

Mácula do Apodrecimento

Meu coração está enegrecido de tristeza
A minha trilha é um árduo e espinhoso caminho
Trouxe flores mortas pra ti,
quero que as regue com sangue

Custurarei suas feridas
com o cetim de minhas vestes
Tudo,tudo dentro de seu
claustrofóbico e doce pesadelo

Agora já desenterrado,
trago os fantasmas do passado
vindos de diabólicas profundezas
isolada,distante,cheio de tristeza.

E seus gritos
não merecem o paraíso

Seu corpo,
cremarei
Sua alma,
sepultarei
sobre o solo do esquecimento
que trará a Mácula do Apodrecimento.

Luciano Lira 29/12/2008
                    26/01/2009

Eis a poesia que leva o nome do blog.Escrita por Luciano Lira,admirável amigo e irmão.

sábado, 9 de abril de 2011

Rolei cigarros entre meus tortos dedos o silêncio bailava com os tragos
e ao cair das cinzas,iam juntos meus medos
lembranças de pseudos afagos

As lágrimas encontraram o chão
o grito-que aqui veio- sufocou a dor
dilacerou meu fraco coração
despetalando minha flor

Agora sobra-me o espinho
o talo e as murchas pétalas
que cultivo com carinho

Esperando o vento entrar pelas janelas
na esperança que chegue a ti
o que sobrou dentro de mim.

Rafael de Lima.