sábado, 10 de novembro de 2012

Morte...Morte! Seja sensata nesta noite!
Leve-me para o desconhecido
Rompe-me a casca que prende minh'alma
Congele meus batimentos
Cesse o pulsar...

Condene-me com a eternidade
Puna-me com o esquecimento
Apague-me com o tempo

Destrua os restos mortais
Antes do cair de outra noite...

Sinto a agitação no peito
Agonia berrante...Como fera faminta
A voz e as palavras, perdem-se
O pranto é inevitável...

O silêncio vem cavalgando em cólera
A insônia entre em coma profundo
Os pesadelos saem das arcas enterradas
O sono evade-se entre as frestas da porta

O toque sutil dos lábios da morte
É a deixa, antes do amanhecer...

Rel.
A neblina lá fora, é o véu da noite
O orvalho, é o Bálsamo da morte
Que acoberta minhas vestes
O vento vem, para despedir-se...

O punhado de vida que ainda resta
Perde-se na escura esquina ao leste
Extinta junto aos prantos meus...

As cinzas deste cinzeiro
Entregam o que acontece todas noite...
Um vasto cemitério de cigarros tragados
Chaves de uma mente tão doentia
Reduzidas a restos mortais
A mortificação das palavras
Frases e ais na folha
Consequência de insônias...

O corpo esquece a carícia da cama
Roga o leito no cemitério mais próximo...

Rel.
O buquê mais belo do mundo
Não encontra-se na mais bela floricultura
No mais belo jardim
Encontra-se no lugar esquecido
Temido,esquartejado pelo tempo

Um lugar onde o silêncio é a sinfonia mais incrível
Onde o mármore nem sempre é cobertor para todos
Onde fotografias são corroídas pelo tempo
E nomes encravados em jazidos...

O cheiro pestilencial, é linhagem desta Terra
O temor dos vivos, é a essencial aqui
O entorpecimento, uiva alto em cada catacumba
Sobre sol e chuva, flores vem e murcham...


Um corvo no inferno

Anjo de asas negras, o vasto mistério é pérola
Vocifere entre a escuridão
Rasgue o silêncio dessa imensidão
Arranque o pavor dos noturnos
Rompa os anéis de saturno
Antes de outro alvorecer...

Pobre besta, negror de prantos soturnos
O inferno, desdobrasse em sete
E os portais dos vivos para com os mortos
Rompem-se em tua patrulha...

Carregue! Maldito! Outra alma embebecida
Sorver mudo,é um dom para poucos!
Perambular sobre jazidos esquecidos
É suplicar por uma única coroa
Perder o calor...O viver...

Observas! Criatura miserável!
A decadência infeliz quimera saciável

"O fel, mero mortal é a mais agridoce bebida
Líquido raro, que somente você, foi agraciado
Beba... e não temas partir..."

Rel.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Meia noite! Acorde! Acorde criança
Vamos...Desperte...O espetáculo é agora
O mundo dorme,
O mundo transa,
O mundo morre...
Nas ruelas escuras caminharemos
O muro da privação da Casa dos Mortos
Iremos pular...

Reunião desvairada de mortos
Pairar,
Acender um cigarro para aquecer o peito vivo
Embriagar-se para gargalhar
Pois tú- pura criança - mereces sorrir

Veja!
Flores mortas sempre tem o aspecto de belo
O seu cheiro pútrido mantém viva
A lembrança de quem já partiu

Vês! Esse é o único lugar em que os vivos
Temem em vir...
Por isso, o abandono e o esquecimento
Não que isso seja trágico
Pelo contrário...
É o lugar mais sensível e belo
Em que pode-se ser bem vindo...

Rel
Sobre a caixa, o órgão podre
Poesia é o mofo do lugarejo mais escuro
Que agarra cada cm³
Um grito tão afobado
Um sussurro, roubado pelo vento
Tombado na cripta errada...

Uma gota, que ensopa o breu
O silêncio é a corda da forca sufocando
O trago, vem gelado como a morte
As cinzas, o preludio do esquecimento

A valsa sobre o mármore é inevitável
O Pólen morto, aspira-te
Dispersa-te  dessa casca
E volte para casa...

Rel.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O pranto tomba ao líquido dos poetas
O silêncio vocifera vorazmente
A alma- morta- bate agoniada em seu túmulo
Os vivos morrem
E  os mortos vivem

A rigidez é inevitável
O sono é confortável
O pesar no corpo
É doce como o fel

A navalha é o arco na garganta
O som da carne cortada
É o espetáculo para morte
Convidada de honra
Nesta última noite...
Os raios de Sol, espreitam as brechas
Apunhalam o breu gelado
O furor do mofo, envolve a atmosfera
Que nas sombras, esconde-se a fera

Negrume, enterra-te os soluços
Lança-te ao penhasco de teus medos
Pairar em meio a queda profunda
Acenda, acenda e trague...

Esconda-se, o nascer vem alado
Bombardeio de luz que não brilha
Ofusca,
Teme em apagar-se
No próximo beijo do vento
Onde a morte vem montada
Pronta para ceifar...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Espero a morte a cada dia que passa
Desfaço do sono, para não acordar de outro pesadelo
Troco a refeição, por outra dose
O ar puro lá fora por outro trago
A vontade de viver em troca da morte

E no corpo seco, outro troféu 
Nódoa rubra, lambuza o pálido
A tosse do Mal do Século
É apenas a previsão do que resta
A fraqueza, possui cada célula
Respirar já é algo tão difícil como sorrir

Aguardar o peso sobre os olhos
O toque sutil do falecimento entre os dedos
O beijo frio e amargo
E sentir o último pulsar
Na carcaça que aprisionou a alma...

Rel.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A caixa de música

 "Deixo a inspiração entrar, para levar-me para tão longe e desvanear, para assim ser outro poeta, enfim..."

Das formas mais comuns de expressar a tristeza, resolvi por a minha em uma pequena caixa de música. E dentro da mesma, iam minha tristeza, uma bailarina, o último lápis que usara para escrever os meus momentos de fartura e de miséria poética. O seu som era tão triste, que inúmeras vezes murchou as rosas que enfeitavam o que eu chamava de lar, arrancou o grito da coruja que tão longe estava, embora assim conseguiu ouvir...
E em um noite, tão escura, fria e chuvosa sai ao encontro do nada em disparada, pois ao longe algo chamava-me, e desde então as únicas vontades era de sair a procura e levar a tão caixa de música. Os relâmpagos cortavam o breu, o vento bailava entre os galhos, arrancando as pétalas das flores. E diante um momento, enquanto levava a caixa agarrado contra meu tórax, a corda deu-se sozinha e sem entender, procurei abrigo para ver o que havia acontecido, e no ato de abrir caixa, a chuva que era tão tormentosa, em garoa logo transformava-se e assim a bailarina e a caixa logo paravam, e então voltei a caminhar para o desconhecido mas dessa vez com passos curtos.
Sem saber a noção do tempo, as horas agiram como segundos cronometrados e embora estivesse distante de minha morada continuava a caminhar sem pestanejar em frente. Uma ventania de uma hora para outra brotou no caminho, um frio tão estranho quanto noite, arrancou de cada poro meu, o calafrio que estremeceu a minh'alma por completo, e outra vez, a caixa começava a dar corda por si própria e então, em um salto igualado a de uma besta atrás da presa, abriu e junto, a bailarina dançava espantando assim aquela ventania tão agoniada.E ao andar mais um pouco, avistava o santuário dos mortos esquecidos, e então adentrei e túmulo por túmulo caminhava, e mesmo sendo um frequentador par daquele local, ia ao encontro mais ao longe, onde não tinha costume de beber e nem poetizar, aproximando de um único túmulo esquecido no vazio dos que gozam da vida. Em sua laje sepulcral a fotografia de uma bela moça, seu nome o tempo encarregou-se de apagar, as únicas informações legíveis era a data de seu nascimento 13 de Março de 1895 a de falecimento 09 de Abril de 1917 e uma frase : "Se um dia, sentir saudades e lembrares de mim, é porque no passado fui um pedaço da sua felicidade. E quando se ouve boa música fica-se com saudade de algo que nunca se teve e nunca se terá. " E naquele instante, um vazio cortava meu peito, que embora estivesse acostumado a sensação, dessa vez arrancou o grito mais triste de minhas entranhas, outra vez a bailarina voltou-se para fora e tornou a girar, ao ficar encantado notei que o rosto da bailarina era o mesmo ao da jovem ali sepultada. Confuso voltei para meu leito, com o sentimento da perda que de tão profundo, permaneceu em minha mente e corpo, trazendo-me a insônia mais pesada de toda minha vida, desbotando o meu extinto sorriso...
E esse sentimento forte quanto a morte, acompanha-me graciosamente até hoje, e mesmo o tempo castigando meu corpo, ainda reúno forças para sempre levar nem que seja ao menos uma rosa, para tal moça, e ela me retribui com o som da caixinha de música que ainda resiste em tocar...


Voe para o longe!

Voe! Voe para o longe!
Pois lá a tristeza brota
Embriague-se com a maldita
Ceife os dias algozes
E deleite sobre os mortais restos
De tua fantasia...

Voe! Voe para o longe!
E é lá que se deve morrer amanhã
Bata as cinzas de teu sorriso
Enterre tuas vestes com as mentiras
Apague as palavras que ontem, ecoou na mente

Voe! Voe para o longe!
Não temas! Não temas!
Os gritos, acolá são tão mudos
Quanto o oco de tua carcaça...

Voe! Voe para o longe!
Baile sobre teus escombros
Sobre sentimento estirado
A loucura, é mera semelhança quanto a razão
Febril são as criaturas, enquanto puras
São imunes ao pecado da vida

Voe! Voe para o longe!
Ao nascer do eclipse, será imune
Ao sabor amargo do abandono
A entropia, que vive a vida
Turva a epilepsia, que sente a necessidade
De sair da jaula carnal...

Voe! Voe para o longe!
E engarrafe o que luta em dizer.

Rel de Lima 15/06/2012

Se meu peito, onde deleito os espinhos
Voltasse a morrer, voltaria a sentir o fel
Que um dia brotou nos dias frios
Esperando os dias morrerem no céu

Secar o ais, que pairam no meu leito
Sobre o que deverá ser desfeito
Pois a solidão vestiu sombra da dor
Que a vela suplicava em refletir

Se no sonho, ainda ali resta
O conto acabou, junto com a festa
Sobrou o grito entalado na fresta

Enforca-te aos passos do teu clamor
Lembre-se do vazio dos dias
Que aos poucos, ceifará a vida.

Rel  15/05/2012
Outro alvorecer reaparece
Os meus olhos -intactos- não foram beijados pelo sono
E em volta,o poço escuro
Apara os prantos meus

A presença da morte,
Balança as mortas flores
Paralisa minha mente
Despenca o choro doente

E de demente,o mundo lá fora graceja
Se não fosse pelo crânio sobre a mesa
Outro soluço meu
Seria sepultado junto com medo...

Rel 15/05/2012
Soltei as mãos da solidão
Para cair no escuro do vazio
Terminar os dias no conforto da dor
E esperar o outro nascer do sol
Que talvez não saia...

Provei o a dose de espinho
Que na taça,trinquei...
Procurei a morte,
Sem saber que já estava morto.

Rel 15/05/2012

Mal do século

Mal do século

Um poeta cantor já disse:

- "O Mal do Século é a solidão, cada um de nós imersos em sua própria
arrogância esperando por um pouco de afeição..."


Solidão da noite
Do dia
Da madrugada
Solidão da tarde
Dos quartos
Das esquinas

Solidão da vida
Do destino
Da alma em abismo
Vazia esperando
Pelos beijos que não vieram
Pelos braços que não se abraçaram
Pela morte que ainda vem

Solidão do poeta
Dos poemas
Das musas
Do silêncio
Da agitação

Solidão do mundo
Do fundo do poço
Do jovem moço
Do velho arcaico
Do período Jurássico
Do racismo em chamas

Solidão da arrogância
Da fama
Do anonimato
Solidão de fato
Do sexo solitário
Das leis duras
Do rebelde arbitrário

Solidão do som
Da ausência de amor
Do rancor
Do perfil da lama

Solidão de tudo
Do homem mudo
Do cego que vagueia
Da mulher que não lhe tolera

Assim...
Solidão demais
Solidão que atrai
Do nada que trai
Apenas solidão demais

Esse mal
Essa tal de solidão
Que vem
Que vai
Que fica
Que mortifica
Solidão demais

Estamos sozinhos
Pássaros sem ninho
Trancados em mundinhos
Esperando que a solidão se vá

Que a dor não seja má
Que o ontem seja hoje
Que o hoje seja o amanhã
E o futuro seja apenas solidão

Solidão do dogma
Da prisão da mente
Solidão que de repente
Faz-se ausente
E apenas por um instante
Por um mísero instante
Faz-me chorar

 Paulo Nieri

domingo, 10 de junho de 2012

O morcego

Meia -noite.No meu quarto me recolho.
Meu Deus!E este morcego!E,agora,vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."
-Digo.Ergo-me a tremer.Fecho o ferrolho
E olho o teto.E vejo ainda,igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau.Esforços faço.Chego
A tocá-lo.Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente a faça,à noite,ela entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

Augusto dos Anjos.

Um sonho no sonho

                     Este beijo em tua fronte deponho!
                    Vou partir. E bem pode, quem parte,
                    francamente aqui vir confessar-te
                    que bastante razão tinhas, quando
                    comparaste meus dias a um sonho.
                    Se a esperança se vai, esvoaçando,
                    que me importa se é noite ou se é dia...
                    ente real ou visão fugidia?
                    De maneira qualquer fugiria.
                    O que vejo, o que sou ou suponho
                    não é mais do que um sonho.


                    Fico em meio ao clamor, que se alteia
                    de uma praia, que a vaga tortura.
                    Minha mão grãos de areia segura
                    com bem força, que é de ouro essa areia.
                    São tão poucos! Mas fogem-me, pelos
                    dedos, para a profunda água escura.
                    Os meus olhos se inundam de pranto.
                    Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
                    se os aperto na mão, tanto e tanto?
                    Ah! meu Deus! E não posso salvar
                    um ao menos da fúria do mar?
                    O que vejo, o que sou ou suponho
                    será apenas um sonho num sonho?
 
Edgar Allan Poe.

Lembranças de morrer

“...Eu deixo a vida como deixa o tédio

Do deserto, o poento caminheiro,

- Como as horas de um longo pesadelo

Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,

Onde fogo insensato a consumia:

Só levo uma saudade - é desses tempos

Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade - é dessas sombras

Que eu sentia velar nas noites minhas.

De ti, ó minha mãe, pobre coitada,

Que por minha tristeza te definhas!

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,

Se um suspiro nos seios treme ainda,

É pela virgem que sonhei. que nunca

Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora

Do pálido poeta deste flores.

Se viveu, foi por ti! e de esperança

De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,

Verei cristalizar-se o sonho amigo.

Ó minha virgem dos errantes sonhos,

Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário

Na floresta dos homens esquecida,

À sombra de uma cruz, e escrevam nela:

Foi poeta - sonhou - e amou na vida...”

Alveres de Azevedo

Borboleta

Acordei,com algo batendo asas
Pousou sobre o crânio na mesa
Comeu o pólen morto da rosa seca
Rodeou o meu leito

Suas asas,um luto destacado
Destacava-se no canto do quarto
Assustado com a visão turva
Imóvel,ficava ao encanto

-Turva borboleta,profanadora de tumbas!
A tua presença assusta-me e encanta-me
Baile pelas paredes de minha cela
 Destrua minha insônia
Traga-me o pó de Morfeu
e a pureza dos arcanjos.

Rel 05/06/2012
      06/06/2012

Acrobata da Dor

Gargalha,ri,num riso de tormenta,
Como um palhaço,que desengonçado
Nervoso,ri,num riso absurdo,inflado
De uma ironia e de uma dor violenta

Da gargalhada atroz,sanguinolenta,
Agita os guizos,e convulsionado
 Salta,gavroche,salta clown,varado
Pelo estertor dessa agonia lenta...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos!Retesa os músculos,retesa
Nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão,fremente
Afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ri!Coração tristíssimo palhaço.

Cruz e Sousa.
A insônia evadiu-se do meu quarto
O medo trouxe-me outra taça
A embriaguez,exalou-se  pelos meus poros

O grito de mais cedo
Enforcou-se junto com o vazio
O odor do vinho,fundiu-se ao rubro
A chuva encontrou os meus prantos

A fumaça de outro trago
Acariciou-me o rosto
Faleceu junto com o cigarro no fundo do cinzeiro

Tumba esta,amante da nicotina
Assim como meu pulmão
Atrás de outro trago.

Rel 06/06/2012

Desacompanhado

Desta vez o etílico não fez companhia
Um copo de café e um maço de cigarro
Para assim,corroer o tempo
Do azul para o gris,o céu travestiu-se
E lá fora os pássaros voltaram a falecer

O vento dança com este silêncio
Que aqui encobre meus aposentos
E no meu caderno,outras mais...

Poesias,que irão perder-se
Ao tempo confuso,de outro dia.

Rel 29/05/2012.

Cárcere das almas

Ah! Toda alma num cárcere anda presa
Soluçando nas trevas,entre as grades
Do calabouço olhando imensidades
Mares,estrelas,tardes,natureza

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e,sonhando,as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza

Ó almas presas,mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas
Da Dor no calabouço,atroz,funéreo!

Nesses silêncios,solitários, graves
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!

Cruz e Sousa.

Os mortos

Ao menos junto aos mortos pode a gente
Crer e esperar n'alguma suavidade:
Crer no doce consolo da saudade
E esperar do descanso eternamente.

Junto aos mortos,por certo, a fé ardente
Não perde sua claridade
Cantam as aves do céu da intimidade
Do Coração mais indiferente

Os mortos dão-nos paz imensa à vida
Dão a lembrança vaga,indefinida
Dos seus feitos gentis,nobres,altivos.

Nas lutas vãs do tenebroso mundo
Que os mortos são ainda o bem profundo
Que nos faz esquecer o horror dos vivos.

Cruz e Sousa

sábado, 19 de maio de 2012

Quando o nada,tornar-se a solução
O tudo,será tão esquecido quanto ao parto

Quando a canção de ninar acabar
Perceberá a insônia que te acompanha

Quando os prantos,começaram a dar frutos
O silêncio será o lenço mais puro

Se o vazio chegar a ser tão confortável
A morte não será tão assustadora

Talvez,se o calor de tuas veias perceberem
O frio será mais confortável que o mesmo.

Rel

Resumo

Se em meio ao frio,os meus tragos perdem-se
No silêncio,eis que apresento-me
Se ao anoitecer,os meus passos tornam-se o Ballet
Tropeço a cada amanhecer

E ao abscinto,outro beijo em sua turva essência
Ao meu caderno,o inferno de minhas palavras
A Mácula do Apodrecimento,é um prato que come-se sozinho

Se ao longe a morte cavalga
A vida aqui perto,deixou de pulsar
Se o desespero é servido,
Erga tua taça e brinde

Se a loucura,já não é a cura
Desista da sanidade
E enforquece-se,no mastro de tua miséria...

Rel

domingo, 13 de maio de 2012

No colo da morte,deitei
As suas vestes,molhei
O afago em meus cabelos,dela ali ganhei
Mas meu pedido,ela não o atendeu.

"Ceifa-me...Não deixe-me ver outro nascer do dia..."
Ela tocou em meu rosto e disse-me:
"Por mais que eu venha  ao encontro daqueles que não esperam por mim,
teu desejo não posso cumprir.Agrada-me o teu carinho pela minha pessoa,
a tua ternura é algo tão puro quanto as criaturas celestiais.Não que eu seja egoísta,
mas tua vida,não posso ceifar,pois a solidão,está sim é que encarregarar-se de fazer
teu desejo..."

Então,beijou-me a testa e despediu-se
Seco então,
Morri aos 20 anos do dia 07 de novembro de 1492.

Adega do silêncio

Das minhas inúmeras adegas,uma tinha atenção a mais
A adega do silêncio.
Esta adega,destacava-se pelo vácuo que ela proporcionava
O seu cheiro de velha,o aspecto assombroso que ela tinha,encantava-me.

O frio de todos os dias,em cada uma das garrafas estava arrolhado
A tristeza e o esquecimento,eram mais do que simplesmente pó
As lágrimas,exalam ainda mais o cheiro do meu vazio
As palavras ao rótulo,apagavam-se assim como minha voz,diante todo esse tempo

O réquiem de meus prantos,foi a peça que nunca cansei em assistir
O palco vazio de minha mente doentia,foi o espetáculo que cortava-me o sorriso
O nojo que sentia e que ainda sinto por esse mundo
Ainda arranca o muco de meu peito.

Os calafrios,de todas as madrugadas,era o casaco do inverno
A cela de meu leito,era a cripta para a morte
Esperar dia após dia,a visita alada
Era algo tão passivo e árduo

Tocar o forro de meu caixão,foi algo que sempre sonhei e desejei
De ficar imóvel,servindo de alimento aos vermes
Foi a ternura mais infinita que senti
Enquanto,lacrimejava no esquecimento.

Rel.
Lança-te!Lança-te ao vazio
Cubra!Cubra o rubro...
Abra! Abra os pontos de tua miséria

Embriague-te!Embriaga-te aos medos meus
Entorpa-te!Entorpa-te com meus berros
Gralhe! Gralhe...

Putrifique,pois as rosas já estão mortas
Os espinhos murchos
Sobre a carcaça de tuas costelas desnudas
No solo fértil,do esquecimento agudo.

Rel.

Outro dia cinzento alvorece
A insônia deitou-se em meu leito
Assistiu-me,tragar a carteira em minutos
O esquecimento outra vez,tomou mais uma taça de prantos

Dos dizeres,presenteio com a surdez
A minha forca é a tristeza que vive a bailar
Sobre meu decrépito ser

No poço na desgraça,lanço-me
Ao ponto de perder,o último vestígio de luz
Que ainda esforça-se em iluminar-me

As lágrimas,aqui no abissal
Já não fazem insignificante efeito
Sobre o feto da solidão.

Rel.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Os suspiros da morte

Ao passar da hora grande
Da inquietação de outro pesadelo
Senti-me observado

Assustado,fiquei
Pairei meus calafrios
Para sentir os suspiros da morte.

Rel 04/05/2012.

A Baudelaire

Em uma noite,não como as demais que passaram
Longe do real estava,
O frio não era o mesmo,como acostumado estava a sentir
A noite,não brilhava
O sono,evadiu-se do quarto

O cheiro de flores mortas
Exalava,atrás da porta
Era um arranjo
O arranjo das Flores do Mal

E pétala,por pétala
Extraía uma por uma
Esperando,que a morte
Tivesse piedade de minha atroz miséria...

Rel 04/05/2012

Em meus momentos mais íntimos,questiono-me: O que dizer para a morte quando ela agraciar-me com sua ilustre presença? Deveras Eu assustar-me? Beijá-la? Suplicar por mais um suspiro,seja qual for ele? Implorar por mais outro trago? Ou oferecer uma dose de chá ou de bebida? Ou então tirá-la para uma dança tão insana enquanto a vela ainda queima? Confesso que não sei como agir e nem quando.Talvez se começasse pelos pecados que cometi aos olhos remelados do mundo entrópico,regados aos seus dogmas e preceitos.Confessar,seria algo tão falso comparado ao que tantos outros seguem em suas gaiolas racionais...Esperar o último pulsar,não apenas passou em minha mente tão doente,talvez também passou pela sua também,que embora seja doente ou não em algum dia já desejou que a morte viesse tão alada,quanto aos Arcanjos Celestiais.
Esperar a coroa murcha de flores,para assim agregar o odor pútrico,dos cemitérios em que bailei e embriaguei-me enquanto vociferava aos túmulos,minhas poesias que ao vento eram cantadas...Na esperança que os mortos,ouvissem os meus Ais e saíssem de suas cobertas de mármore ou de concreto,resguardados a poeira do esquecimento dos que acham que vivem.
Aguardar a Lua e as estrelas perderem o brilho que recebem do Sol,foi algo tão mórbido quanto as adegas da amnésia dos falsos e verdadeiros amigos,e como já dizia um sábio e querido poeta: "Falsos amigos,dispenso a vossa inveja..." Ceifar as rosas,para vê-las caírem a porta do caixão,sempre era algo que agradava-me,do contraste gritante do pálido com a infinita ternura colossal dos espinhos.
O silêncio já não agradava mais,o vazio tão pouco...Molhar a guela com um pouco mais,com o mais vagabundo dos vinhos,afagar a caneta e escrever outro conto que será esquecido como tudo,tragar o último cigarro como o prazer de uma exaustiva transa mental...E preparar-se assim para o sono tão eterno...

Rel 04/05/2012.
Em minha janela,o vento açoita-se
Baila a teia de aranha
Transforma as cinzas ao pó
Assovia,entre a fresta

Moribunda meu leito
Pranteia as minhas velas
Consome os meus cigarros

A coruja ao longe,anuncia
Seus chiados,despertam os calafrios em meu corpo
Vago -torpe- ao encontro com a morte.

Rel de Lima 04/05/2012.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Para os leitores que ainda visitam o Blog,peço desculpas por não está publicando mais nenhuma poesia e vídeo,mas é que ultimamente vem ocorrido uma série de coisas que  não para deixar para trás,espero que entendam...
Desde já agradeço a compreensão.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Em meio a noite,perdido entre tortos tragos a notícia da desgraça calvaga a todo vapor.E no meio tempo disso a necessidade da tristeza agarra meu corpo,e uma vontade feroz de pular de cabeça em um rio chamado Solidão.O frio de janeiro é apenas um cobertor para quem já acostumou-se a beber taças e mais taças do destilado silêncio,que para outros é amargo,cruel,enlouquecedor,sinistro...E na cela de meu quarto,onde as paredes por inúmeras vezes abafou o choro nas noites enquanto ébrio estava, o cheiro do cigarro queimado torna-se o mais doce aroma,as flores secas encravadas em um projeto de jarro exalam a morte entre os espinhos sem cor.
No cinzeiro,os ais meus,tragados e apagados,esquecidos ao novo acender de meu outro cigarro.Da vida quero a morte,da morte o esquecimento e do esquecimento o nada,louco estaria sendo ao me juntar aos sacos de estrumes,acredite com tanto tempo na insanidade do vazio,acostuma-se a ficar com o mais puro silêncio.Os dias perdem a graça,o vinho perde o sabor,as palavras perdem-se nos vastos pensamentos,a vida desbota a cada passar do relógio,o brilho nos olhos ficam arranhados,as olheiras dispensam a maquiagem,as longas unhas em meio aos tortos dedos trincam,a magreza esculpe meus ossos,a tosse colore de vermelho a pia do frio banheiro,o sorriso quebra-se em bilhões de pedaços...
A cachaça...Ah logo esta,do carvalho anestesia e esfria as borboletas de minha mísera barriga,suas asas murcham e mesmo contra minha vontade,elas terminam morrendo e vivendo como Fênix.A sensação de euforia já é algo tão de cor de gris,que por mais que tente-se colorir,acabo encostando a boca nos lábios da morte,embora ela negue-se a beijar-me.
Puto,puto Eu!Converso comigo diante o espelho.Imagem cadavérica refletida naquilo que supostamente transpassaria  a beleza,pouco importa-me o que enxergam em mim,pois dentro de uma esquelética caixa nada mais consegue viver.
Das estrelas canto os suplícios meus,da Lua espero a vossa morte,da noite deito-me com a solidão,e dos dias espero a minha certidão de óbito.

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